quinta-feira, 24 de maio de 2012

Paraísos Artificiais

Aonde colocar os pensamentos, quando o corpo parece estar num entre-lugar?  Espaço em que não se identifica ao certo estrutura para fincar uma fundação, por ser instável demais, ou simplesmente distante de quem se busca atingir, quando não de nós mesmos...

Às vezes acho que todo preto como eu, que percebe sua trajetória ir sendo construída, ancorada em referencias distantes, daqueles que temos, quando ainda somos crianças e, introduzidas a padrões outros que fogem à realidade das pessoas como nós, em que pese negra, pobre e eternamente atraído pela favela, ao mesmo tempo em que este mundo novo que se revela, não cabe esse corpo e essa mente negra subalterna... Daí vem a pergunta... O que fazer? Para onde ir? Como daqui direcionar?

Por do Sol em Alcobaça/BA
Venho percebendo, em algumas cenas que fotografo em meu cotidiano, que muitos como eu, por hora sente-se flutuante na vida, ou em boa parte dela, como agora pareço estar. As drogas parecem ser respostas nesta hora, senão soluções, para muitos que nesta situação se ancora... Como agora tem sido para mim...

Como algumas pessoas já sabem, as substâncias psicoativas atravessam minha vida, desde que pela primeira vez ainda em 1999, aos 15 anos, tive minha primeira experiência, meu primiero contato com a alucinação profunda que me fez entrar em princípio de alverdose, as minhas análises e reflexões e todas as coisas em minha vida passaram a ser feita com muita intensidade... Na realidade quase todas as coisas... rsrsrsrsrsrsrsrs...

Naquele ano, quando conheci um trabalho terapêutico desenvolvido no meu Sertão Norte Mineiro, senti como nunca havia sentido o peso da vida e seus efeitos em minha construção... Vida Loka cabulosa... De lá para cá, ainda que essa temática não tenha se tornado carro chefe de minhas atuações sociais e políticas, ela sempre esteve presente transversalizando meus discursos e, perseguindo meus passos e meu corpo, muitas vezes obrigando-me a mergulhar, a me lançar no princípio de insanidade das demandas de minha própria psique.

Montes Claros/MG vista de um lugar especial...
Acho que nessa hora, construímos nossos castelos na areia, um paraíso artificial que dificilmente damos conta de reverter e voltar a realidade... No caminho de casa, aqui no Rio, entre a Estação de Maria da Graça e Triagem, pela janela do metrô vejo um coletivos de irmãos e irmãs de cor se entregando a alucinações na beira da linha do trem, mergulhados, imersos no crack e em tudo que ali é permitido...

Incites que rapidamente fogem aos olhos dos muitos e muitas que também vêem todas aquelas pessoas lá embaixo, enquanto o metrô rapidamente passa... Mas para mim não passa... Sinto a necessidade de repostas pontuais para isso. Sinto-me cobrado por algumas demandas que parecem caber somente a mim... De dentro do metrô, olhares de repugnância, inquietações e indignações, às vezes causam pequenas discussões, mas mal entendem que estão todos imersos em alucinações e viagens... Eu por exemplo, drogado pelos meus livros desde que comecei a refletir e indagar, que em tese só muda o lugar onde é feito, as roupas que estamos vestidos, mas em nada às alucinações e viagens, vistas nitidamente em pessoas em uma biblioteca...

Tanto na beira da linha do trem, quanto em bibliotecas e dentro do metrô, as pessoas fecham os olhos, sorrir sozinhas, imaginan-se em outros lugares, fazendo outras coisas, muitas vezes com outros corpos... Alucinações, desejos, frustações tudo se convergem no corpo e na mente... E eu, observo e absorvo tudo...

A vida e a cobrança que me submete a outros lugares, a outras realidades e reflexões que também detém da importância do meu tempo e, da minha dedicação intelectual para buscar soluções e, respostas e medidas que mudem ou outros tantos cenários que também se tornam importantes e emergentes pela beleza que lhes faltam, me consomem e me fazem delirar, quando não enveredar-me em densas alucinações... Frente aos meus olhos são expostos desafiados, cada vez maiores, que fazem dos meus desejos e sonhos do tempo de minha infância e adolescência, se tornarem pequenos e obsoletos... 

A capitalização da natureza se torna um problema, o desmatamento do meu Sertão, a reforma agrária no Brasil, a fome no mundo, a necessidade da promoção da igualdade racial, o entender a organicidade familiar no Século XXI, a reelaboração de princípios básicos como virtude para a juventude, a desconstrução da tradição na epistemologia do pensamento moderno, enfim, são tantos os desafios, são tantas as necessidades de respostas que aqueles genuinamente meus, vão sendo esquecidos, quando não apagados e, suas respostas nunca encontradas...
Eu de um outro ângulo... A beira um entre-lugar

Recebi uma crítica estes dias, que versava sobre a minha busca constante por resposta em meus textos, foi algo legal que houvi, no mesmo momento que lia um texto dentro das leituras obrigatórias que tenho que fazer, que projetava-me proucurar, uma forma outra, melhor de pensar e elaborar as perguntas que faço. Parece não haver muito nexo, mas tudo isso amarrou minhas necessidades e meus (des)temperamentos de agora...   

A fluidez dos tempos descritos nos livros de Zygmunt Bauman, traduzidos na instabilidade do entre-lugar que hoje sinto alojar meus pensamentos, possivelmente encontra estabilidade quando este se desafia reformar perguntas que buscam suprir as necessidades dos anseios e problemas de quando ainda eu era criança. Talvez seja essa uma saída estratégica, para todas e todos que sentem o sentido de seus caminhos, irem sendo dissipados, diluídos enquanto os passos ensaiam o desenrolar da vida...

Ao certo não sei se já dou conta de reprimir meus desejos por respostas e buscar elaborar melhor as minhas perguntas, ao certo não sei se consigo voltar a encontrar um lugar, quando nenhum dos que são possível, me cabem. Ao certo não sei se consigo largar mão de meu vício pelos livros e das alucinações causadas pelas minhas reflexões, mas parece querer-me ser fundamental, voltar a segurar no meu eu genuíno, nos sonhos e expectativas de quando tudo isso que hoje tenho e vivo, não me era realidade. Ao certo e a cabo, não conseguirei todas as respostas que ainda busco, mas sinto possibilitar com isso, dar uma fundação digna para minha existência se enraizar, bem como, melhorar minhas questões, meu lugar e, o paraíso real que desenho construir e quero viver.

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