Como dói crescer...
Ver o corpo se mutilando com o passar do tempo...
Embora preferirmos usar eufemismos para esconder as mais
puras verdades, nossas tragédias, decepções, limitações e medos preferimos
sempre a busca da imagem mais bela, do ângulo mais perfeito, como fazemos quando
vamos tirar fotografias... E quando a imagem não fica legal, a gente
simplesmente, deleta...
No centro Eu aos 4... |
Como seria legar ter um botão deste “delete” em algumas
coisas da vida né? rsrsrsrrsrsrsrs... Pessoas chatas, momentos tristes, saudades, virariam fumaça...
A procura sempre da melhor imagem a passar, não importando
se por dentro estejamos fétidos, em estado avançado de decomposição, não vemos mais
condições de viver sem uma das maiores vaidades da modernidade, o “hedonismo”.
De forma bem superficial, se traduz nessa busca incontrolável que temos pelo
prazer...
Aos 12... |
Venho notando meus processos, minhas transformações, meu
hedonismo e sobre tudo isso quero refletir hoje nestas poucas palavras...
Aos 18... |
É certo que não temos as respostas prontas para todas nossas
dúvidas, mas inevitavelmente ás consequências de determinadas decisões, causam desdobramentos
imensuráveis que às vezes nos perseguem por toda a vida...
Aos 22... |
Venho sendo pressionado por mim mesmo, pelo meu orientador do
mestrado, pela minha orientadora da pós, pela saudade do meu sertão, em
produzir, escrever, ler, me formar bem... Mas algo interessante me aconteceu na
madrugada de ontem, quando indagado por uma amiga que com todo o carinho, observou
erros ortográficos e de concordância em meus textos já publicados aqui...
Imediatamente, e com ela, fui corrigindo cada um deles, e nossa como eram
muitos... rsrsrsrsrsrsrs. Fui dormir indignado por perceber o quanto
despreparado eu ainda estou, e após a noite e o dia de hoje, ainda com receito
dos meus erros, compreendi que exatamente a apropriação do hedonismo, faz com
que cobremos tanto da gente, que a cobrança nos impossibilita de mostrar quem
somos, no meu caso, uma pessoa em construção... Lógico que terão erros ainda,
nossos limites não podem nos enfraquecer, pelo contrário, deve nos
potencializar...
Ao chegar a essa conclusão, percebi que as tais dúvidas que
tanto me assolam, em especial as sobre o meu processo de existência, que nunca
em minha estória foram tantas, neste momento precisava de um basta por está destruindo
as minhas maiores verdades... Sei que é inevitável a dúvida, já dizia o René Descartes...
Estes processos são um saco, dolorosos e muito pesados, eles destroem-nos por
dentro e minam nossas bases com o mais forte e poderoso explosivo... Não sobra
nada...
Aos 25... |
Venho tentando me encontrar diariamente, no que tem restado
de mim após já tantas reflexões, tantos livros e tarefas que tenho que cumprir
para chegar em, sei lá qual lugar... Meu orientador disse hoje na reunião
coletiva, que fazemos escolhas, então “saímos da esquina”... Usou sabiamente a
metáfora de quando ficávamos na esquina conversando com amigos, sem noção do
tempo e das consequências, e quando nos dávamos conta, já havíamos saído e
quando por lá passamos, vemos alguns que permanecem no mesmo local, parado
olhando a vida passar, outros novos nos substituindo, e muitas vezes no
silêncio de nosso âmago fazemos julgamentos, pensamos, ficaram atrasados, como
certamente somos julgados por eles que nos acham metidos, porque entramos na
faculdade, compramos um carro, temos um razoável emprego... Mas enganamos
quando pensamos que deixamos a esquina para traz, o que fazemos é a transferir
para outros lugares, outros amigos, que às vezes se faz na faculdade, no
trabalho, na igreja, buscaremos sempre um lugar para comportar nossa mente por
que alguns lugares simplesmente não mais é capaz de abarcar nossa complexidade...
Fiquei pensando como tirar a angústia que já construí nesses
meus passos de vida, e me lembrei de uma música que eu ouvia, quando ainda ia a
igreja ouvir os sermões desconexos dos padres... A música diz: “Não dá, mais
para voltar... O barco está em alto mar...”
Aos 26... |
É verdade, não dá mais para voltar... A esquina de minha
casa, já não comporta minha complexidade... A igreja já não me dar o alívio
espiritual que eu conseguia encontrar antigamente... Como dói isso... Na medida
em que vejo meu corpo também ir se consumindo pelo tempo, 93 Kg, bem espalhado por
estes 1,75 metros, com ligeira concentração do peso nas pernas e na região
abdominal, esta última vem me exigindo esforços horríveis para dissiparem, mas
enfim, percebo que não dá mais para voltar... infelizmente. Eu fui contaminado
pelo vírus mortal da crítica e da dúvida e creio que jamais poderei voltar a ver
as coisas como antes... O Arphuador, lugar que gosto muito de ir aqui no Rio,
uma grande pedra que possibilita ver o mar como em nenhum outro lugar desse
país, tem um cheiro horrível de urina, assim como o Pelourinho na Bahia, o
centro de Belo Horizonte que esconde ratos enorme que sai durante a noite para
cumprimentar as pessoas na rua...
Aos 27... |
Percebo que com isso, ando para um fim. O fim da juventude
que já não me permite ver as coisas com tanta animação, o fim de um ciclo que traduz
a mudanças dos meus esforços... Hoje escrevo mais, penso mais, sou mais flexível...
Aprendi a aprender mais, a falar menos, a economizar energia... E assim vai se encerrando
até que o sopro da vida pedir licença do corpo físico, daí nesse momento é
importante que eu tenha preparado outros Julianos, que empolgado e apaixonado
pela vida, queria tudo de uma vez só... Nesse momento não haverá maior vaidade que
a de gozar a vida de forma simples e calma como um idoso experimenta tudo...
Então porque tantas cobranças?
Por que racionalizamos tanto, muitas vezes coisas óbvias?
Por que crescemos?
Alguns minutos... Aos 28... |
Tais indagações fazem parte de meu hedonismo particular, em especial,
por ainda apegada a minha juventude sofrer com o fato da mesma já se despedir,
deixando para traz desejos, sensações, gostos e inconsequências que certamente
como adulto, não caberão vivê-las... Pode ser que estas dívidas e a superação delas
me ajudem a entender que viver é a maior das artes, mas isso, eu creio que já sei,
ou talvez a entender que esse momento é somente mais um daqueles que passamos
quando precisamos mudar de postura ou de enquadramento social, como de quando
criança lutamos com todas as forças para sermos aceitos como adolescente... Mas
como pode? Se ainda sinto falta de minha fase na puberdade, quando adolescente queria
transar com o mundo, sempre excitado com as possibilidades da vida e com os
acontecimentos que exigia se materializar... Acho que esse conflito, nem mesmo
o Freud conseguiria me ajudar... rsrsrsrsrs...
Na verdade as coisas de adulto, já me são próximas... Esse é
o fato. Falta do Amor que está longe... Vontade de ver a ramificação de minha
família na Família Pereiruche, filhos... Tudo isso se mistura a um projeto de
conquistas pessoal, que são na verdade coletiva, e as mudanças que neste momento
vejo-me imerso perpassam por esse momento singular...
Há essas tais metamorfoses... Quando não complica nossas
vidas, nos faz crescer...