quinta-feira, 24 de maio de 2012

Paraísos Artificiais

Aonde colocar os pensamentos, quando o corpo parece estar num entre-lugar?  Espaço em que não se identifica ao certo estrutura para fincar uma fundação, por ser instável demais, ou simplesmente distante de quem se busca atingir, quando não de nós mesmos...

Às vezes acho que todo preto como eu, que percebe sua trajetória ir sendo construída, ancorada em referencias distantes, daqueles que temos, quando ainda somos crianças e, introduzidas a padrões outros que fogem à realidade das pessoas como nós, em que pese negra, pobre e eternamente atraído pela favela, ao mesmo tempo em que este mundo novo que se revela, não cabe esse corpo e essa mente negra subalterna... Daí vem a pergunta... O que fazer? Para onde ir? Como daqui direcionar?

Por do Sol em Alcobaça/BA
Venho percebendo, em algumas cenas que fotografo em meu cotidiano, que muitos como eu, por hora sente-se flutuante na vida, ou em boa parte dela, como agora pareço estar. As drogas parecem ser respostas nesta hora, senão soluções, para muitos que nesta situação se ancora... Como agora tem sido para mim...

Como algumas pessoas já sabem, as substâncias psicoativas atravessam minha vida, desde que pela primeira vez ainda em 1999, aos 15 anos, tive minha primeira experiência, meu primiero contato com a alucinação profunda que me fez entrar em princípio de alverdose, as minhas análises e reflexões e todas as coisas em minha vida passaram a ser feita com muita intensidade... Na realidade quase todas as coisas... rsrsrsrsrsrsrsrs...

Naquele ano, quando conheci um trabalho terapêutico desenvolvido no meu Sertão Norte Mineiro, senti como nunca havia sentido o peso da vida e seus efeitos em minha construção... Vida Loka cabulosa... De lá para cá, ainda que essa temática não tenha se tornado carro chefe de minhas atuações sociais e políticas, ela sempre esteve presente transversalizando meus discursos e, perseguindo meus passos e meu corpo, muitas vezes obrigando-me a mergulhar, a me lançar no princípio de insanidade das demandas de minha própria psique.

Montes Claros/MG vista de um lugar especial...
Acho que nessa hora, construímos nossos castelos na areia, um paraíso artificial que dificilmente damos conta de reverter e voltar a realidade... No caminho de casa, aqui no Rio, entre a Estação de Maria da Graça e Triagem, pela janela do metrô vejo um coletivos de irmãos e irmãs de cor se entregando a alucinações na beira da linha do trem, mergulhados, imersos no crack e em tudo que ali é permitido...

Incites que rapidamente fogem aos olhos dos muitos e muitas que também vêem todas aquelas pessoas lá embaixo, enquanto o metrô rapidamente passa... Mas para mim não passa... Sinto a necessidade de repostas pontuais para isso. Sinto-me cobrado por algumas demandas que parecem caber somente a mim... De dentro do metrô, olhares de repugnância, inquietações e indignações, às vezes causam pequenas discussões, mas mal entendem que estão todos imersos em alucinações e viagens... Eu por exemplo, drogado pelos meus livros desde que comecei a refletir e indagar, que em tese só muda o lugar onde é feito, as roupas que estamos vestidos, mas em nada às alucinações e viagens, vistas nitidamente em pessoas em uma biblioteca...

Tanto na beira da linha do trem, quanto em bibliotecas e dentro do metrô, as pessoas fecham os olhos, sorrir sozinhas, imaginan-se em outros lugares, fazendo outras coisas, muitas vezes com outros corpos... Alucinações, desejos, frustações tudo se convergem no corpo e na mente... E eu, observo e absorvo tudo...

A vida e a cobrança que me submete a outros lugares, a outras realidades e reflexões que também detém da importância do meu tempo e, da minha dedicação intelectual para buscar soluções e, respostas e medidas que mudem ou outros tantos cenários que também se tornam importantes e emergentes pela beleza que lhes faltam, me consomem e me fazem delirar, quando não enveredar-me em densas alucinações... Frente aos meus olhos são expostos desafiados, cada vez maiores, que fazem dos meus desejos e sonhos do tempo de minha infância e adolescência, se tornarem pequenos e obsoletos... 

A capitalização da natureza se torna um problema, o desmatamento do meu Sertão, a reforma agrária no Brasil, a fome no mundo, a necessidade da promoção da igualdade racial, o entender a organicidade familiar no Século XXI, a reelaboração de princípios básicos como virtude para a juventude, a desconstrução da tradição na epistemologia do pensamento moderno, enfim, são tantos os desafios, são tantas as necessidades de respostas que aqueles genuinamente meus, vão sendo esquecidos, quando não apagados e, suas respostas nunca encontradas...
Eu de um outro ângulo... A beira um entre-lugar

Recebi uma crítica estes dias, que versava sobre a minha busca constante por resposta em meus textos, foi algo legal que houvi, no mesmo momento que lia um texto dentro das leituras obrigatórias que tenho que fazer, que projetava-me proucurar, uma forma outra, melhor de pensar e elaborar as perguntas que faço. Parece não haver muito nexo, mas tudo isso amarrou minhas necessidades e meus (des)temperamentos de agora...   

A fluidez dos tempos descritos nos livros de Zygmunt Bauman, traduzidos na instabilidade do entre-lugar que hoje sinto alojar meus pensamentos, possivelmente encontra estabilidade quando este se desafia reformar perguntas que buscam suprir as necessidades dos anseios e problemas de quando ainda eu era criança. Talvez seja essa uma saída estratégica, para todas e todos que sentem o sentido de seus caminhos, irem sendo dissipados, diluídos enquanto os passos ensaiam o desenrolar da vida...

Ao certo não sei se já dou conta de reprimir meus desejos por respostas e buscar elaborar melhor as minhas perguntas, ao certo não sei se consigo voltar a encontrar um lugar, quando nenhum dos que são possível, me cabem. Ao certo não sei se consigo largar mão de meu vício pelos livros e das alucinações causadas pelas minhas reflexões, mas parece querer-me ser fundamental, voltar a segurar no meu eu genuíno, nos sonhos e expectativas de quando tudo isso que hoje tenho e vivo, não me era realidade. Ao certo e a cabo, não conseguirei todas as respostas que ainda busco, mas sinto possibilitar com isso, dar uma fundação digna para minha existência se enraizar, bem como, melhorar minhas questões, meu lugar e, o paraíso real que desenho construir e quero viver.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Já Sei Olhar Para Mim Sem Precisar de Espelhos

Como encontrar o limiar entre o que se tem, o que se deseja e o que se pode alcançar? Qual o lugar para ancorar o que estipulamos importantes/hora necessário e o que podemos de fato ter/ser/desejar? Creio serem estas as preocupações que nos últimos dias tem me invadido/atravessado e aqui esforço esvaziar-me...

Exercícios não comuns com meu corpo, marca a entrada em uma fase desconhecida, aonde experiências empíricas, por vez exercitada no âmbito das mentalidades, na prática do pensar e, do refletir, reverberam-se para minha vida social, exigindo-me encontrar outro lugar para alocar meus pensamentos, como meu corpo, minhas perguntas e respostas. Mas aonde?

Ao certo ainda não sei... Mas tenho idéias... Venho me dando possibilidades de ver os dias passarem pela janela, o que tem levado-me dar passos mais lentos em direção ao que por hora acho que desejo vir ser. Essa prática, encarada como uma terapia tem ajudado reajustar o meu processo/caminho e, na maior parte do tempo levado-me a sentir mais satisfeito com os resultados alcançados, talvez por chegar ao objetivo proposto, que também tem se tornado mais frequente, logo menos complexo. Compreendi que “mais importante que a velocidade, é o caminho” e, saber para onde se quer ir, é muitas vezes, mais importante que o destino... Portanto, a palavra de ordem para o momento é DESACELERAR...  

Tenho tido muitas dificuldades nesta nova empreitada, ainda nebulosa, o que me faz confundir a necessidade do desacelerar com a frenagem, que muitas vezes feita de forma abrupta e estúpida, quando não inconsequente, deixa marcas inscritas em formas extensas e profundas em meu DNA... Mas são também importantes, ainda que também violentas, violentam meu processo e minha trajetória me causando barreiras/defesas que engrossa minha proteção...

Pode parecer conformista, mas saber o que não se quer, às vezes é a única forma de construir/definir o que se quer e, neste entendimento coloco minhas angústias e aflições de lado e busco estruturar meus processos, meu caminho, encontrando na solidão e no frio dos últimos dias que se faz alento acolhedor e potencializador dos meus pensamentos, que divagam livres em busca de respostas, ou de perguntas mais bem elaboradas... Sinto estarem sendo fincadas minhas raízes internas...

No processo... Enquanto as raízes internas vão crescendo...
Tenho pensado sobre as escolhas que faço... Será que as tenho? quando escolhemos, a fazemos a partir do que? E por que as escolhas traduzem perdas? Ao certo, devo confessar que às vezes sinto não serem escolhas o que venho exercitando rumo ao que defino como o que quero.  O próprio desejo do que quero, são muitas vezes para mim, algo não meu... Não sei se escolhi fazer faculdade, se escolhi viajar o Brasil, sair do país, se escolhi deixar o Sertão e construir uma carreira acadêmica. Não sei se escolhi não ter filhos aos 28 anos, nem uma família estruturada para quem eu dedicasse meu respirar e meus esforços... Certamente esses não eram meus desejos de criança... Então vejo, que em boa parte do que hoje empreendo, do que hoje sou, foram respostas dadas às ações que fui simplesmente cumprindo, realizando papéis determinados, assumindo, reproduzindo, encenando, muitas vezes de forma inconsequente que me trouxe até onde hoje estou... Ilhado e emancipado na dicotômica cidade maravilhosa do Rio de Janeiro...

Faço neste momento um exercício de auto-subversão, essas coisas que fazemos quando desejamos mudar o direcionamento de nossos caminhos e processos futuros, ao buscar concertar os equívocos possíveis do passado, visando o que estar por vir... Em meu caso, intensificado pelo que sinto ter deixado para traz, ou em maior escala que não deixei e, que hoje me exige-me largar...

O exercício do NÃO, sem dúvidas é, o que mais me exige e me remete nesta fase do processo. O Não dito de forma seca e fraterna tem mudado minha postura e os meus pensamentos, fazendo-me olhar a partir de outros ângulos. Dizer Não é difícil e dói, mas também vejo e sinto ser necessário, providencial e importante. Sei que as práticas que venho tomando neste momento, não traduzem de fato  e ao certo o que hoje sou e o que projeto querer vir a ser, talvez, por ainda ser um momento de transição ou, talvez, por ainda ser um processo que só esteja no começo... O fato é que já sei olhar para mim sem precisar de espelhos e, isso de alguma forma, me acalenta a alma e ajuda manter-me nessa postura que vou ensaiando, num entre-lugar entre o que tenho, posso e desejo vir a ser/estar...

Não dar mais para oferecer algo que não tenho... Não posso mais permitir aventurar em efêmeros momentos e sentimentos que não posso ser recíproco, nem pensar distante de mim... Felizmente alcanço isso em um momento que ainda não tomei decisões mais sérias em minha vida, pelo menos que exija de mim mais que os meus pensamentos, para demarcar meus próximos passos...

Desacelerando, colocando meus pensamentos em lugares/outros que ainda ao certo não sei aonde, assim vou, definindo meus processos, seguindo meus próprios passos, iluminando meus caminhos e desenho meus dias... Um de cada vez.

domingo, 13 de maio de 2012

Tributário Teu

Entre olhares e sorrisos sinceros, ações direcionadas ao fortalecimento e cuidado dos teus, percebo o doce apetite de tuas intenções. Teria a razão, condições de descrever em palavras o significado de ser o que representa? Creio decisivamente que não...

Envolvida sempre em tarefas que consomem teu tempo e tua vida, em dedicação plea, frenética em direção ao coletivo de teu entorno, faz de conflitos outros, teus, e transforma em ferramentas que nos possibilita prática na experiência da vida. Não consigo ver tamanha dedicação somente com bons olhos...

Queria poder te devolver a vida, que pudera tua existência pessoal... Devolver-te o espaço para teus próprios caminhos, teus sonhos, sem culpa, cobranças, pressões e deveres... Como descrever tamanha dedicação, senão em culpabilizar-me por ela? Quero-te hoje, libertar-te de mim. Devolver-te os teus direitos que roubei, e possibilitar-te a vida plenamente tua...

Mãe

Dedicação, inspiração
Emoção à flor da pele que forma
Hora bons, hora maus, talentos entes nós somos...
O que de te emana?
Apenas as melhores das intenções fazem

Baixa estatura de um enorme ser
Deténs a pureza de um olhar que cura
E um sorriso nos atinge a alma
Isto que só encontro em você
Pudera outra mulher me proteger com a força de teus braços?

Decisivamente não
Se não, dependesse de teus conselhos
De tua leitura e orientações
Para me dizer o que sou
E o quanto sou para ti e para o mundo

Certamente não saberias de mim
Sem ti em mim, dizer o que sou, falar para onde vou
Por isso digo, assumo sou
Teu tributário e estou em divida
Talvez eterna, sem dúvida eterna

Solto as algemas, liberto-te de mim
Isento-te de esforços em minha direção
Para a ti dedicação fazer
Para mim proteção ceder
Pois agora importa a ti, não mais a mim


terça-feira, 8 de maio de 2012

Felicidade Hedonista



Não a quero. Na realidade nem sei se posso dizer se hoje esta é uma opção... Na dinâmica em que os olhos medem as cenas, fatos e projeções que escapam do ângulo escolhido pela forma homogênea de ver o mundo, a vida, creio não serem possiveis, senão reduzidas, as minhas opções, restando vivenciar e sentir à flor da pele, a felicidade de forma simples e maneira objetiva, que também é capaz de causar dor e estragos, em momentos que tem lá sua importância, arrancando lágrimas, desespero e sofrimentos, fazendo cicatrizes salutares para cada etapa de nosso caminhar...

Creio já poder considerar heróicos, os julgamentos de quem ousa sentir o mundo e a vida na sua existência plena, sem privar de sentir as inscrições do bem e do mal, do êxtase e da dor em sua plenitude. Quando a vida nos prega certas propagandas, tornando às vezes cômico, o que por ventura nos faria chorar, não seria motivo para contestarmos a razão insolente e frenética, que nos acorrenta ao prazer?  Saudades, distância, carência, amores não correspondidos, sentidos que na pele fere, sente, arde, ver e são hoje justificativas para a existência de produtos que aliviam a dor, ainda que esta esteja na alma... Como fugir disso?

Entre outras fábulas, frases, sensações e mitos, o existir é desenhado e nos faz por vez, coadjuvantes de nossa própria história, isso tudo em momentos efêmeros de um tempo curto, que se reduz a cada dia. Suplantamos nossas perdas e (re)significamos nossas distâncias, nesta cultura moderna que torna possível, embora virtual as relações e com elas o sentir, o que por vez alivia um âmago sedento, mas deixa no acúmulo e no fundo, nulo, oculto de cada ser, uma espessa e resistente a solidão que nos engole e fagocita...

Sentidos e sentimentos se tornam clichês, que impedem o expor-se-me de si para si, de mim para si de mim para mim. Ver hoje gestos e posturas sinceras se materializar em direção ao que faz, bem ou mal ao coração e ao existir, é sem dúvidas um achado... rsrsrsrsrsrsrs, e que pena... Penso, e também sinto que vivemos um tempo de anestesias, onde ser transparente e temer ser leviano com o próximo são posturas que requer ousadia, e também forças para romper com os padrões hegemônicos do engessamento social/sentimental. Hora penso ser um equívoco aceitar determinadas orientações para meu percurso particular, por sentir que minha personalidade se infecta com interessantes nostalgias vãs, mas resisto as paixões e as atraentes tentações deste tempo.
Felicidade simples, limpa e saudável...
Garimpar, sedimentar, compartilhar companhias saudáveis, que remetem a felicidades simples, que não exigem muito a se materializar, senão gestos e olhares é uma boa saída que me faz sentir bem, vivo, humano. Perceber-se-me leve em presenças outras, sem temor ou armaduras pode ser parâmetro e sinal de distanciamento desta felicidade hora pregada...

Confesso que apesar de todos os esforços temo a delicadeza, em especial a que faz de pessoas rosas flores, em estágio final de seu ciclo de vida, onde basta, um simples toque ou sopro, para que as pétalas se desmanchem ao chão... Isso me segura há momentos curtos e felicidades pontuais, mas que para mim, inegavelmente é melhor que esta sensação eterna de satisfação, que paira nos cartazes e faces das pessoas nas redes virtuais... As músicas ajudam a perceber tudo isso, e são grandes companheiras, ensaiadas junto o casal de violões que levo como parceiros de jornada. Também são pontes que aproximam minhas lembranças no Sertão, que doente,sente, imberna, e requer olhares sinceros e medidas exatas de antídotos outros, que revelem a realidade nua e crua, possibilitando o bom combate às muitas violências tecidas contra o Cerrado...
Da janela, o céu do Sertão e seu tapete... O Cerrado
  Os livros como drogas, também são fonte de soro, para recarregar a água que seca da nascente existencial de minha personalidade sertaneja... Tenho tomado doses cada vez maiores, que tem me levado a mergulhos profundos, alucinações e histerias, que por hora me curam, e por hora me matam... Ainda não sei ao certo, conferir os já impactos de todas as decisões tomadas pela minha mente, refletida em meu corpo, exercitada pela união dos dois, mas posso antecipar que há um misto condescendente de dúvidas e certezas que me faz às vezes raso, às vezes profundo em demasia, em especial para com as relações, trânsitos, sentimentos e sensações que se montam ao meu redor, embora cultive com zelo, a verdade do que posso e não posso oferecer...


Por este e outros, próximos e distantes se justifica o  combate a felicidade hedonista


Não desejo mais ser leviano com o coração alheiro, por isso preocupo conter expectativas que não posso cumprir, ainda que viva intensamente tudo que posso, seja por meio de ligações, textos e emails, seja qualquer outra coisa em qualquer outro lugar, como incita o Djavan, pois sei que no fim e no fundo o que fica são coisas boas e sinceras e sabores violentos, que para a distância e solidão me são remédios...


Sobre a felicidade e suas reverberações, tenho lá hoje, meu modo particular de a perceber e sentir... Já me sinto imerso a esta forma/outra mais reduzida, embora julgue também mais sincera e distante, de acessar a felicidade, como democraticamente boa parte à faz. A cada investimento conferido em prol de minha liberdade intelectual, que tem lá seu preço, me distancio mais dessa comum forma de ser feliz, e aumento meu arsenal particular... Não consigo/permito mais me anestesiar diante tamanhas incoerências, e antagonismos que eu mesmo produzo, impedindo-me de alcançar a plenitude dessa felicidade hedonista que se desenvolve diante meus olhos e que são para muitos a busca central da vida... 

Não consigo e não quero deixar de ver, as tantas injustiças, as muitas violências, físicas e simbólicas que minha geração e as que antecederam a minha, podem visualizar, diagnosticar, conferir, vir como torrente anestesiando cada vez mais, e em doses mais fortes, as novas gerações que dividem a sociedade hoje. Por estes, outros e alguns particulares fatos, devo concordar que felicidade é uma escolha, e eu escolho Ver e Sentir... Ainda que por ela venha também a dor... Prefiro-a que viver/estar anestesiado das verdades e realidades deste tempo...

Livros, contas e aromas, combustível aditivado para os meus pensamentos férteis

Fernando Pessoa, um amigo e refúgio, alivia-me das tensões e angústias, em dias como hoje, onde a fé é assaltada pela razão do existir. Incita o poeta que "Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades. Para viver a dois, antes, é necessário ser um"... Creio que esse exercício é, pois, para mim, remédio para o momento... Não necessariamente é preciso excluir algumas coisas para viver outras, mas necessariamente é preciso viver certas coisas para depois viver outras, ou, aceitamos nos condenarmos a andar os caminhos pela metade. Podemos ser inteiros, sem as dosagens certas da vida que propomos para nós?


Felicidade hedonista não. Não a quero, não a posso...

domingo, 6 de maio de 2012

Complexo, Eu?


Não sei bem se me sinto um privilegiado, ou se recai como condenação, o fato de ser/estar dentre alguns milhões de seres humanos que já vivenciou os impactos de dois Séculos em vida... Parece bobo, mas viver o final conturbado do Século XX, que projetava mudanças radicais para o tempo futuro, e hoje ver determinadas descobertas se tornaram simplesmente obsoletas, ao passo de vivenciar o Século XXI que traz mudanças significativas ao comportamento humano, embora também insistente em permanecer pautado em paradigmas históricos que simplesmente não cabem à racionalidade e a sensatez, é minimante de deixar qualquer um/a louco...
Título que ainda não me substanciou...

Fico observando a vida lá fora, aquela que vai se reproduzindo distante me meu existencialismo, e que me possibilita conferir, refletir, sentir o que por hora faz-me entender premiado por ser de uma geração que ainda repudia as mudanças repentinas das novas tecnologias, talvez por serem avançadas em demasia à psique do final do Século XX, talvez por atender aos desejos do capital, que vivenciou assustado o tempo dos gigantes computadores, de memórias ínfimas para os dias de hoje, e percebeu na pele e nos sentidos a ambição criada pelos celulares de quase um kg... Por hora também me sinto condenado pelo bem/mal que tudo isso criou em mim e na forma como eu e a humanidade hoje nos comportamos diante da necessidade umbilical de tudo isso  que hoje ”novo”, nos exige e requer sempre mais... Horas e mais horas de dedicação frente do computador... Aqui estudamos, namoramos, comunicamos, trocamos, compramos, pagamos, transamos e aos poucos nos escravizamos...

Antídotos para o mau do século XXI
 Creio que de certa forma, já consigo compreender a inevitável presença do paradoxo, que meu grande amigo e professor in memorian, Rufino Waway, tentava revelar nas aulas de filosofia, ao denunciar o antagonismo como base na formação do pensamento humano eurocêntrico e também norte americano... Creio que todo pensamento condescendente destes, já nasce de certa forma estruturado em paradoxos, e mantém esta tradição, equivocada para alguns comportamentos, em especial quando nos força apropriar de valores para avaliarmos e sermos avaliados polica-social-espiritual e biologicamente...

Quero insistir no que me parece óbvio, para conseguir acompanhar o que ainda hoje, longe da violência desse tempo de rupturas, acessos, cultura global e substituição de valores pelo nada, que me faz acreditar parecer ser central para mudanças, para cultivar dias melhores e quem sabe em algum momento poder colher frutos saudáveis para a dignidade humana...


Espero não estar solitário, na vigilância dos impactos de todas estas mudanças que em minha avaliação tem tornado o planeta esquizofrênico e uma província global. Creio que minha complexidade alcança olhares singelos dos/as que como eu, observam, escutam e sentem a chegada de um momento de extrema delicadeza, que nos vai requerer bem mais, que energias e ânimos para o trabalho e por busca meritocrática rumo ao alcance de privilégios...

O Cerrado doente de humanidade
Confesso que me assusta, esta cultura de equalização dos corpos em especial a devastação da natureza, em que pese o meu Cerrado norte mineiro invadido pelos Pantations de eucalipto, e tudo isso justificado em nome do progresso. Dói, ver a morte dos rios e as respostas furiosas que a natureza vem dando ao descontrole sócio/ambiental, mas temo e aguardo algo pior chegar... Não é tão difícil prever, é fácil sentir um pior se aproximar, basta abrir os sentidos e ver... Isso tem forçado a reorganizar minhas energias, preservar certas posturas e o meu corpo para uma guerra mais bruta... Não cabe depositar mais tanta importância, as incoerências da reorganização da língua portuguesa, ou da pressão para entender/dominar o inglês, hoje há coisas mais emergenciais e importantes para se tratar, resgatar, formular, sei lá...

Caráter, origem, fé, esperança, amor, família, dignidade, honestidade, música, poesia, tempo, sorrisos sinceros, conversas na sala, olhos nos olhos, felicidade limpa, companheirismo, direitos, deveres, amizade verdadeira, coletividade, nacionalismo, respeito, educação, limite, mão dadas, cuidado, empatia, fidelidade, beijo no rosto, na testa, nas mãos, deus, percepção do óbvio, simplicidade, tempo livre, história oral... O que tem acontecido com estas e tantas outras características do humano?  

Terá se tornado virtual como boa parte de nossas necessidades? Seria esta pergunta uma resposta? Ter-se-iam evoluído? Para quê? Para onde? Bem, de mim não resta muito senão acompanhar atento, os passos deste tempo e propor sugestões, provocações, análises enquanto me preparo para algo que temo ser ainda pior, pois sinceramente creio que se houvesse um pouquinho mais de bom senso, nossa direção e orientação como humanidade seria outra, totalmente diferente...

Não haveria espaço para corrupção, violência, discriminação, disputas e tanta desvalorização do ser humano. Daqui, ligado, atento, conectado e morrendo aos poucos, vou vivendo os bônus/ônus deste paradoxal século, que aqui jaz, faz de mim, para mim e para a humanidade, sermos nós todos/as complexos na relatividade do efêmero e rápido tempo que já se foi...