quinta-feira, 22 de novembro de 2012

QUALIFICAÇÃO



Lá, ela se aponta
É apenas mais uma
mas parece ser a mais importante
Para o momento talvez seja
Que venha

Olhares atentos
Ouvidos acessos
Postura de um bailarino
Domínio de pregador
Críticas, inevitáveis
 
De cá uma pequena tensão
Nada que faça perder o equilíbrio
Uma sensação de superação
De poder e segurança
De trajetórias

Assim mais uma
E outras me fazem o que sou
Pensador
Crítico à flor da pele
Um outro eu

sábado, 17 de novembro de 2012

Segredos



O tempo
encarrega-se de desvendar
o que oculto tenta esconder 

Uma folha de papel
rabiscada, dobrada e colocada
em um canto qualquer
revela segredos

Amor, tesão
paixão à flor da pele
Intenções e abraços que não tem fim

Lembranças de um tempo bom
e suas despedidas
O gosto do sempre primeiro beijo
que permanece

Desejos, aromas
e o banho recorda o novamente
Transpõe a realidade de mais uma e outras vezes

As incertezas nas letras tortas
também revelam alegrias
Dessas que retiram o eixo
e destrói rotinas

Na paisagem, expectativas
Cenas vividas
e muitas a viver

Sentir o que ainda oculto
o que ainda puro
Provoca a vida que segue
Sem olhar pra traz

domingo, 11 de novembro de 2012

Novas Masculinidades


Quero
Diferenças nesse que sou
Distancias desse que fui projetado

Quero ser
Assim mais eu
E menos, dependendo da questão

Quero ser outro
Melhor que ele e que meu pai
Distante de mim e mais eu

Quero ser outro novo
No plural, assim novas
Longe do novo como é

Assim sendo eu
Outras ou novas
Masculinidades preciso

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Em Sol+



Momentos difíceis ensinam
No caminho, a sempre a aprender
Nas zonas tensas e intensas
há tempo para reflexão, para música
Será a maturidade que bate a porta?


As notas altas desafiam
Não há lugar para o medo
Desafinar é só um ponto de vista
Nos tons altos, há sedução, poder


No banheiro, somos imortais
A água, a acústica, facilita o diálogo
A luta


Somos uma canção específica
e única
Por vezes esquecida
entre vozes e peles
calor e distâncias
Silenciamentos


Sendo uma canção
Canto-me
Em Sol+


De nada importa o tempo
os livros, as idéias
o ativismo
Se a música que sou não é ouvida
Errar, é um falso problema


Ariscar sim
é importante
fundamental
Enobrece o que tornamos
Inscreve o que somos
Faz-nos nós
Uma canção perfeita

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A quem fica

Hoje, dia dos ancestrais, se faz mais um desses dias cinzas, nublados, em que me sinto arrebatado a entender minha existência neste mundo, e me sentir mais humano por sentir as perdas que naturalmente acumulo em minha solitária jornada.

Um copo de vinho tinto suave ao alcance das mãos quebra o silêncio do limitado quarto que vivo a maior parte do tempo aqui no Rio de Janeiro. Hoje, este pequeno quarto parece ser um estádio de futebol vazio, comigo ao centro e, não importa o desempenho que eu tenha, essa sensação de vazio, não se distancia...

O dia iniciou com música em som alto, (re)assisti ao filme “O dia em que a terra parou”, pensei na possibilidade de mudanças radicais, conversei ao telefone, naturalmente pensei nos mortos e nos que viverm que me arrancam saudades. Penso no quanto sou grato por ter tantos que destinam parte de tua existência em meu convívio.

Alguns, os meus pensamentos precisaram parar para curtir mais a saudade, meu Avô, Dindinha, Isaac, meu menino precoce... Este último fez-me melhor e marcou minha vida com sua curta trajetória. Deu-me esta triste música que compartilho, mais parece uma profecia... Quantas saudades...  A música cantada em MI+ leva seu nome, Isaac

Linhagem de um Rei
Escravo de um sistema
A benção lhe faltou
Te tirando de cena, eu sei
Que a tua pele Negra te faz
Apenas um dado esquecido
Homem menino, sofrido...

Isaac Javé;
Nos olhos um homem de fé
Que da Luz foi retirado
Seu corpo escravizado

Isaac Javé;
Nos olhos nos diz quem tu és
Um homem menino perdido
Um corpo desprotegido

Morrer não dá mais
A morte te espera em paz
Homem menino, sofrido...

Engaçado como a morte nos faz vivos. Paradoxalmente, em dias como o de hoje, em que somos escolarizados a pensar na morte, a comprar velas e flores e visitar nossos antepassados no cemitério, temos um feriado para tal nostalgia.

Vagamente refletimos sobre o tempo, a vida e a existência, daí sentimos vivos e humanos, também pequenos e vulneráveis, a morte nos faz sentir assim... Esta sensação é forte e enlouquecedora, e justifica nossos silêncios, que na maior parte das vezes, nos leva a anestesias profundas do pensar, refletir, indagar...  

Enquanto a garrafa de vinho abaixa o nível, o líquido em mim altera meu poder de percepção, e certifico o quão é infinitamente melhor se vive sem estas questões, mas essa decididamente não foi a vida que escolhi, daí (re)existo, (sobre)vivo...

Pensei muito no Zé, um cara sem igual, carismático, palhaço até os fios do cabelo, pai de uma grande amiga. Em seu velório, fui presenteado com uma canção de amor, uma das mais belas que consegui compor até hoje.  

A cena ainda é perfeita em minha mente, o dia amanhecia, quando vi sua filha, K-rol se despedir em lágrimas a beira de seu caixão. Eu sentado a beira da porta, fotografei cada detalhe daquela conversa regada por lágrimas, saudades, perdão, amor, raiva, medo, desilusão, tudo junto consumindo-a e todas nós ao seu entorno. A morte nos tira do eixo... A canção leva o nome de parte final da letra “Vivendo em Mim”, cantada em SOL+...

Como dói
Ver você partindo sem me dá um adeus
Ver me despedindo dos carinhos seus
Ter que acostumar, sem os teus abraços

Ah como dói
Ver o dia nascer sem o teu brilho
A alegria simples do teu sorriso
A imensidão de mim que há em você

Meu amor
Minha fonte de inspiração
Parte deste meu coração
Não me deixe aqui
Fica perto de mim

Meu amor
Luz que encanta minha razão
Eu te entrego meu coração
E te deixo ir
Mas não vou impedir
Que continue vivendo em mim...

Esse dia que mais parece uma semana chega ao fim. De cá, olho a vida de fora dela, imagino todos que amo e que longe estão...  Envio o melhor que tenho, meus libertários pensamentos. Sóbrios, como na maior parte do tempo, ou embriagados de saudades como os que agora emanam de mim...

Creio que seja um bom momento para eu confessar meu amor. A todas que fazem parte de minha vida e soma ao que tenho me transformado meu sincero Amor... A você que ler o que escrevo e se contamina com um pouco de mim, muito obrigado por existir e por gastar parte de tua vida comigo...