Primeiramente parabenizo o Paulo Ramos pelos
esforços e por conseguir retirar do silêncio a problemática da Violência no
Brasil e sua interseção com raça/etnia, geração e gênero. Senti muito provocado
com o artigo e pela repercussão que este tem alcançado, pensei em fazer uma
análise geral incitando o debate, mas devido às várias aberturas que o texto
possibilita, comentarei ponto a ponto apresentando outros pontos de vista.
Paulo: A cada nova divulgação dos dados sobre
homicídios no Brasil a mesma informação é dada: morrem por homicídio,
proporcionalmente, mais jovens negros do que jovens brancos no país. Além
disso, vem se confirmando que a tendência é um crescimento desta desigualdade
nas mortes por homicídios.
O texto traz informações importantes, assustadoras
e históricas. A Juventude Negra morre absurdamente no Brasil e quando comparada
com a Juventude Branca, os dados denunciam a manutenção do racismo como um
determinante a considerar nesta relação. Ao refletir sobre a premissa factual
das mortes de jovens negros, que podem ser evitadas percebo a habilidade que o
racismo à brasileira, inscrito na gênese desta sociedade, tarda com os
enfrentamentos necessários, na medida em que aumenta a miopia da gestão das
políticas públicas de juventude, que não conseguem e/ou não querem dar respostas
quanto à problemática neste país.
Paulo: O diagnóstico produzido pelo Governo Federal apresentado ao Conselho
Nacional de Juventude – CONJUVE mostra vetores importantes desta realidade,
para além dos socioeconômicos: a condição geracional e a condição racial dos
vitimizados. Em 2010, morreram no Brasil 49.932 pessoas vítimas de homicídio,
ou seja, 26,2 a cada 100 mil habitantes. 70,6% das vítimas eram negras. Em
2010, 26.854 jovens entre 15 e 29 foram vítimas de homicídio, ou seja, 53,5% do
total; 74,6% dos jovens assassinados eram negros e 91,3% das vítimas de
homicídio eram do sexo masculino. Já as vítimas jovens (ente 15 e 29 anos)
correspondem a 53% do total e a diferença entre jovens brancos e negros salta
de 4.807 para 12.190 homicídios, entre 2000 e 2009. Os dados foram recolhidos
do DataSUS/Ministério da Saúde e do Mapa da Violência 2011.
O Mapa da Violência 2011: Jovens do Brasil e incluo
o Mapa da Violência 2012: Crianças e Adolescentes do Brasil (anexo I)
fotografam a violência neste país revelando a preferência deste fenômeno junto
à juventude negra (masculina e feminina). Segundo os estudos, homens negros
jovens moradores de periferia são mais propensos a morrer por homicídios e
mulheres negras jovens são mais violentadas em espaços privados neste país. Os
dados apresentados por Paulo Ramos são informações públicas produzidas e
apresentadas pelo Governo Federal recolhidas pelo Ministério da Saúde, que ao
agrupar as informações e publicar no portal oficial do governo denuncia o
conhecimento do Estado da gravidade desta problemática que mata - ou descarta
na medida em que tarda a construção de estratégias de contensão-,
compulsoriamente um segmento privilegiado na sociedade brasileira, que têm cor,
território e idade. A necessidade de ações inteligentes para dar fim nesta
problemática, indubitavelmente é o maior dos desafios da Juventude Brasileira,
cujo esforços desde sempre chama atenção à este fenômeno e em 2008 junto a
juventude brasileira elege como prioridade 01, o reconhecimento e aplicação,
pelo poder público, transformando em políticas públicas de juventude as
resoluções do 1º Encontro Nacional de Juventude Negra/ENJUNE (BRASIL;
PRIORIDADES DA I CNPPJ, 2008).
A prioridade 01 da Juventude Brasileira dialoga com
os dados sobre violência e homicídios no Brasil, que possui índices superiores
aos países em conflito armado como Israel/Territórios Palestinos, Iraque,
Alfaguenistão, Colômbia, Paquistão, Índia, Somália, Sudão entre outros, que
podem ser evitáveis. Assusta o fato do Brasil possui números de homicídios
superiores (192.804) a somatória de todos estes países juntos (157.332) no
período de 2004 a 2007 como ressalta o estudo (MAPA DA VIOLÊNCIA 2012, p. 22).
Assusta-me a passividade e o silêncio da sociedade
brasileira, em especial dos órgãos governamentais responsáveis por políticas
públicas em dar respostas a esta grave problemática, e também da Juventude
Brasileira que elegeu este público como prioritário na I CNPPJ. Muitos são os
prejuízos gerados pelo elevado número de mortes evitáveis no país. Há um
desperdiço de bônus demográfico que é substantivo para o desenvolvimento que o
país precisa e pode alcançar. Vale ressaltar as iniciativas e campanhas de
setores da sociedade civil que denunciam as mortes, bem como os “esforços lentos”
por parte do Governo Federal para estruturação de ações que dialogue e
intervenha junto a este fenômeno caro à Juventude e a sociedade Brasileira.
Paulo Ramos: Podemos dizer que este tema entrou na cena pública, quando, em 2007, o
Fórum Nacional da Juventude Negra – FONAJUNE lançou a campanha nacional “Contra
o Genocídio da Juventude Negra”. Em 2008, foi realizada a 1ª. Conferência
Nacional de Políticas Públicas de Juventude, e das 22 prioridades eleitas nesta
CNPPJ, a proposta mais votada foi a indicada pela juventude negra que
tematizava justamente os homicídios de jovens negros.
Não sei ao certo a fonte consultada por Paulo
Ramos, mas importa para conhecimento e não incorrermos em anacronismos, como é
práxis neste país - sobretudo, quando refletido sobre a população negra -
sabermos ao certo o histórico da atuação política da Juventude Negra. Esta vem
denunciando insistentemente a mortalidade precoce entre jovens negros,
sobretudo a praticada pelo Estado por meio da policia. Em 2007, ocorre em Lauro
de Freitas/BA o I Encontro Nacional da Juventude Negra/ENJUNE, que foi a maior
reunião de juventude negra já realizada no Brasil, mobilizando para o encontro
nacional cerca de 700 pessoas entre delegadas/os, observadoras/es, palestrantes
e coordenadoras/es, depois de mobilizar os estados e muitos municípios (ZIMBWE,
Thaís e THOMAS, Cláudio, 2007, p. 14).
Descreve o Relatório Final do ENJUNE, que foram 16
meses de articulação nacional, com realização de 10 plenárias nacionais para a
concepção do projeto, adesão de 21 estados, mobilizando cerca de 10 mil jovens
negros/as em todo país. Este encontro resultou no documento, que em 2008 foi
aprovado como prioridade 01 na I Conferência Nacional de Políticas Públicas de
Juventude/CNPPJ. Este documento contém 702 recomendações, retiradas a partir de
14 eixos de discussões. Estas recomendações estão direcionadas ao poder público
e a sociedade civil/organizações do Movimento Negro/Juventude Negra. Ressalta o
documento, que “um dos principais objetivos do ENJUNE foi a discussão sobre o
genocídio da Juventude Negra. Os 14 eixos temáticos do encontro debateram
transversalmente, esta problemática. O ENJUNE denuncia que o extermínio
programado dos jovens negros e negras é uma prática que deve ser combatida em
todos os setores da sociedade (ZIMBWE, Thaís e THOMAS, Cláudio, 2007, p. 15).
O Fórum Nacional da Juventude Negra/FONAJUNE foi
uma das principais deliberações do ENJUNE. Em 2008 o FONAJUNE organizou a
Assembléia Nacional em Guarujá/SP, onde foi pactuada a agenda política do
FONAJUNE, levantada as prioridades e construído as estratégias de ação para
incidência junto a I CNPPJ e mais. Estas ações, somadas a outras, somou à
aprovação da prioridade 01 na ICNPPJ/2008. Em 2009 o FONAJUNE – a Coordenação
Nacional é formada por dois representantes de cada estado que organizou a
plenária estadual pré-ENJUNE -, foi convidado pelo Conselho Nacional de
Juventude/CONJUNE para acompanhar o recém criado GT Juventude Negra e Políticas
Públicas/2009. Este GT foi um laboratório, onde várias fórmulas foram pensadas
para conter a mortalidade de jovens negros. Em 2010, o FONAJUNE assume uma das
cadeiras no CONJUNE representando a juventude negra brasileira.
Os esforços do FONAJUNE e de outras organizações de
Juventude Negra ou não, bem como de alguns órgãos governamentais, entre eles a
SEPPIR no GT Juventude Negra e Políticas Públicas, centravam em construir
consensos e pactuar uma única recomendação prioritária, entre as várias
recomendadas pela juventude negra no Relatório Final do ENUNE. Embora este já
apresentasse o combate ao genocídio da juventude negra como orientação central
na construção do ENJUNE, em novembro de 2009 foi realizado um seminário em
Brasília, organizado pelo GT/CONJUNE, onde foi pactuada a elaboração de uma
estratégia contra o Extermínio da Juventude Negra. O FONAJUNE e demais
entidades do movimento negro ou não, bem como órgãos governamentais fizeram
parte deste processo.
Paulo Ramos: Depois de passar CONJUVE, o tema foi absorvido pelo Executivo, no final
de 2010, através da Secretaria de Políticas de Igualdade Racial – SEPPIR, com a
realização de uma oficina chamada “Combate à mortalidade da juventude negra”.
Com a sucessão presidencial, a pauta – deixada de lado pela SEPPIR, em 2011 –
foi reincorporada pela Secretaria Nacional de Juventude (SNJ), ligada à
Secretaria Geral da Presidência da República-SG/PR, em meados de 2011
Importa destacar que a SEPPIR, detém assento no
CONJUVE, salvo engano desde sua formação e, na oportunidade ajudou e construir
as agendas necessárias nas discussões e fortalecimento do GT Juventude Negra e
políticas públicas. Vale ressaltar que esta secretaria apoiou a organização do
ENJUNE e a Plenária Nacional do FONAJUNE e insistentemente cobrava da
Secretaria Nacional de Juventude/SNJ um posicionamento mais incisivo para ações
junto à juventude negra. Importa ainda revelar quem na Gestão da SEPPIR em
2010, estava responsável pela pasta Juventude Negra? Como foram feitos, os
encaminhamentos para a nova gestão? Pós-oficina de “Combate a Mortalidade da
Juventude Negra”, qual foi o produto dos esforços de várias negras e negros
jovens para convencimento e sedução da gestão Luiza Bairros em 2011? Como a
temática Juventude Negra apareceu nas ações de transição da SEPPIR? Este
detalhe é importante, para compreendermos a crítica feita por Paulo Ramos à
SEPPIR, quando afirma que “a pauta foi deixada de lado” por esta secretaria.
Não se trata de uma defesa pública da SEPPIR,
críticas sejam feitas sobre a timidez de como a Juventude Negra tem sido
tratada nesta secretaria, porém, importa considerar, que existem culpas
compartilhadas nesta história. A incompetência de gestores/as indubitavelmente
é um fator a considerar nesta equação, quando estes não dão conta de provar a
seriedade do tema quando assume um trabalho de gestão. Ainda vale considerar os
esforços que resultaram na Comissão de Juventude Negra estruturada no âmbito do
Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial/CNPIR. Ao considerar estes
pontos para análise, aí sim, podemos perguntar, o que aconteceu com a temática
juventude negra na transição entre as gestões Elói Ferreira - Luiza Bairros
(SEPPIR), e Beto Cury - Severine Macedo (SNJ)? Quais foram os argumentos usados
sobre a importância de ações para a interseção Juventude Negra e genocídio,
Juventude Negra e o desenvolvimento do Brasil? O que tem sido feito? Por que
ela foi deixada de lado?
Paulo Ramos: A SNJ sugeriu que o Fórum Direitos e Cidadania (coordenado pela SG/PR),
que reúne os principais ministérios ligados ao tema, tomasse para si a questão.
Foi o que aconteceu, a partir da criação de uma Sala de Situação da Juventude
Negra dentro do Fórum. A partir daí desencadeou-se uma agenda nos moldes
participativos para o desenvolvimento de propostas que agissem pela redução da
violência contra a juventude negra.
Quando Paulo Ramos descreve “A SNJ sugeriu que o Fórum Direitos e Cidadania (coordenado pela SG/PR),
que reúne os principais ministérios ligados ao tema, tomasse para si a questão”,
vários indagações me invadem, muitas polarizadas, pois, no GT Juventude
Negra e Políticas Públicas circunscrevia debate sobre o lócus desta temática.
Havia uma compreensão para os conselheiros de juventude, que a temática deveria
ser transversalizada em diversas áreas do governo, mas uma compreensão era
consensual para a Juventude Negra, a temática precisaria estar na SNJ. Ao
revelar que a SNJ sugeri para o Fórum de Direitos e Cidadania a questão,
pergunto qual a responsabilidade da SNJ junto à temática Juventude Negra e o
combate aos homicídios no Brasil? Que respostas esta secretaria tem dado a
prioridade 01 da I CNPPJ desde 2008? Quais as iniciativas contra a violência e
a mortalidade precoce de jovens negros construídas por esta secretaria? Eu
queria ouvir algumas respostas...
Paulo Ramos: Problema velho, soluções inovadoras. Esta pauta, de início, podemos
sugerir que possui um caráter especialmente participativo. Pois inicia-se com
uma Conferência de participação social e passa a ser discutido pelo Conjuve. Depois,
quando chega ao executivo, mantém este formato de discussão.
Bem, posso estar enganado e não quero incorrer em
equívocos, mas o processo participativo da construção do que está sendo o Plano
Nacional de Enfrentamento da Violência contra Jovens Negros - resposta da
Prioridade 01 da I CNPPJ/2008, respostas das ações do GT Políticas Públicas e
Juventude Negra/2009, resposta da Oficina Contra Mortalidade da Juventude
Negra/2010, não responde a formato participativo realizados nestes espaços,
como afirma Paulo Ramos. A II Conferência Nacional de Políticas Públicas de
Juventude/2011 tarda em dar respostas, dos encaminhamentos retirados na
plenária nacional. Sabemos que a juventude negra e sua condição frente à
mortalidade precoce e violência, foi um dos encaminhamentos, mas onde estão
essas recomendações, por que do silêncio?
Paulo Ramos: O problema a ser enfrentado é bem complexo. Até hoje algumas iniciativas
que dialogam com este público de juventude negra. Entretanto, existe uma
dissonância entre elementos fundamentais para o êxito de uma ação que vise
combater os homicídios de jovens negros. Para estas políticas, quando há
orçamento, não há reconhecimento de diferenças; quando o projeto aborda a
juventude negra, não há recursos. E quando há reconhecimento com recursos, não
existe foco nos jovens mais vulneráveis.
A problemática é complexa sim. Estamos falando de
um número considerável de mortes evitáveis, esta é a principal complexidade do
problema, o que não justifica, muito menos é possível relativizar os silêncios
por parte do governo em especial da SNJ. Os números denunciam que os homicídios
no Brasil é um problema de saúde pública, de segurança, de educação, de
garantia do esporte e lazer, de comunicação, de falta de trabalho decente, de
falta de acesso à Justiça, é um problema da SNJ, da SEPPIR da Presidência da
República do Ministério da Fazenda, pois é um problema do país.
Enquanto o Brasil, a gestão federal, e as gestões
estaduais e municipais não assumir que a mortalidade de jovens e seus acometimentos
em jovens negros é uma pauta prioritária nas políticas públicas, ínfimas ações
serão desenvolvidas, produzindo os impactos que já conhecemos. O que traz Paulo
Ramos pode ser observado no exemplo do que foi a ação afirmativa Projeto Farol:
oportunidade e ação organizado em 2009, pela cooperação SEPPIR/PR e Ministério
da Justiça/MJ, no âmbito do Programa Nacional de Segurança com Cidadania
(Pronasci). Ou ainda observando nos desafios do PROJOVEM em considerar a
Juventude Negra em suas ações. É importante ao pensar nas estratégias de ação
desenvolvidas contra a problemática da violência entre jovens no Brasil, o
reconhecimento do racismo institucional como determinante das práticas.
Enfrentar o racismo é fundamental, uma pauta que não pode passar despercebida
nas políticas públicas de juventude, pois, esta é tão letal para a juventude
negra quanto às armas dos polícias.
O quê significa as absurdas taxas de assassinatos
praticados pela polícia senão o racismo institucional e suas perversas vertentes?
O que significa o silêncio do Ministério da Justiça e da Secretaria de
Segurança Pública quanto a não punição de policiais que matam jovens negros? É
preciso entender que a responsabilidade das mortes de jovens negros neste país,
e seus prejuízos é de responsabilidade de todas/os os gestores/as e também da
sociedade civil.
Paulo
Ramos: Assim, esta agenda deve ser
trabalhada pelo poder público a partir de duas concepções distintas de
políticas públicas e a partir de uma noção convergente de direitos, pois o direito à vida de certa juventude (a juventude negra) e
elaborada a partir do reconhecimento de diferenças. Mas que o Estado Brasileiro através de seus quadros burocráticos, muitas
vezes reluta em fazê-lo. Uma delas a chamada transversalidade, que defende
que as políticas públicas devem ser caracterizadas pelas dimensões que se
pretendem reconhecer (racialmente, por gênero etc.). A outra maneira pela qual
as políticas setoriais vêm sendo tratadas é pela ação afirmativa. Esta defende
que é preciso criar políticas emergenciais, combinas às estruturantes para
públicos específicos (negros, jovens, mulheres).
Os bloqueios e as dificuldades na compreensão de
conceitos como "diferenças e transversalidades" e somaria
"equidade, interseccionalidades e racismo institucional" são
históricos. Ao refletirmos sobre a constituição do Estado brasileiro e a forma
como este se relaciona com a Juventude Negra na história, os silêncios de hoje
ganham sentido, o que não quer dizer que foi e que é aceitável. As posturas históricas
que pretere e são nocivas aos jovens negros não tem mais condições de se manter
nessa sociedade dita democrática. Reconhecendo os avanços, cabe considerar que
faltam políticas inteligentes que desafiem superar a lógica problematizada por
Paulo Ramos e ir além. Faltam políticas que faz bem para ao Brasil e para seu
progresso e para seu povo. É preciso entender, que investir na Juventude Negra também é investir no Brasil.
Paulo Ramos: As políticas chamadas
transversais carregam consigo um dilema sobre a sua autoria. Se elas devem
estar em todos os campos da ação pública, quem tem o dever de realizá-las? De
quem é a responsabilidade de resolver o problema dos homicídios dos jovens
negros no interior de um governo? A Secretaria Nacional de Juventude, A
Secretaria de Políticas de Igualdade Racial? A Secretaria de Segurança Pública?
De quem é a responsabilidade pelas mortes? A saúde
recebe e contabiliza os corpos; A SEPPIR articula políticas inter-ministeriais;
A SNJ silencia para o racismo e a situação da Juventude Negra, o MJ e SENASP
mostra-se impotente sobre a policia militarizada que assassina jovens negros. E
nenhum destes, consegue intervir no crime nacional e em sua lógica homicida e
capitalista que leva jovens negros morrer pelo confronto direto com policiais
ou não, ou simplesmente por serem negros, usarem bonés e bermuda e morarem em
periferia. O racismo institucional é tão letal quanto a arma disparada por um
policial, ele mata. Vale considerar que jovens negros também morrem por confrontos
com outros jovens negros. A cultura da violência deste país, também precisa ser
considerada na formação de políticas inteligentes para a Juventude Brasileira.
Um dos debates atuais na área da saúde da população
negra no Brasil é o lócus da Política Nacional de Saúde Integral da População
Negra. A dúvida, porém, não ultrapassas as barreiras do Ministério da
Saúde. Seja qual for o lugar (a secretaria), a realização de ações que
intervenha nas mortes tem que ter recursos e empenho de todas as partes do
ministério e do governo, isso é levar a sério uma temática dentro de uma
gestão. Tarda para a Presidenta Dilma não mencionar preocupação com o número de
mortes evitáveis deste país. Salvo engano, segurança pública, saúde, combate a
miséria era prioridade para seu governo, quais justificativas faltam para uma
intervenção com políticas inteligentes junto a esta demanda?
Paulo Ramos: Mas o outro lado deste assunto é que ele mostra que ações relacionadas a
este tema podem partir de outros atores que não apenas o Ministério da Justiça
e que o tema dos homicídios é apropriado por outros setores da sociedade e do
Estado que não são os tradicionalmente ligados ao tema.
Como já dito, as mortes evitáveis são prejudiciais
ao país e tem impedido o crescimento e o progresso desta nação. Também foi dito
que este é um problema priorizado pela Juventude Brasileira, logo os mais
diversos setores e ministérios, empresas privadas, mercado e organismos
internacionais tem licença para desenvolver ações que contenha as elevadas
perdas de mercado consumidor, mão-de-obra, sobretudo o desperdiço de gênias/os
que morrem antes de serem descobertos. O combate ao genocídio da juventude
negra no Brasil precisa de esforços e orçamentos de todas as partes que compõe
este país, a fim de construir políticas inteligentes para combater este crime
que fere a Declaração Internacional dos Direitos Humanos, logo um crime
mundial. Nesta oportunidade, denuncio o Estado brasileiro às agências
internacionais competentes - Ministério Público Internacional -, pelo crime
praticado contra a Juventude Negra brasileira e exijo respostas e providências
rápidas.
Paulo Ramos: Entretanto, antes que um ou outro ministério assuma esta tarefa, é
necessário ultrapassar uma barreira que muito se vê Brasil a fora:
deve-se fincar as ações de promoção de direitos e tratar o seu público “alvo”
desta vez como sujeito de direitos e não como “jovens problemas”. Isso é uma
tendência que os setores organizados da sociedade civil vêm defendendo, há
anos, e que agora devem chegar às políticas que ligam juventude à violência. Do
que decorrerá outro ponto inovador: os jovens são tratados com vítimas e não
mais como os vitimizadores.
Superar o bloqueio dos "jovens" como
"problemas" é possível quando há oportunidades para o desenvolvimento
de esforços coletivos que pensem a formação integral deste sujeitos, o que para
a juventude negra no Brasil se agrava, quando buscamos a intersecção de sua
condição racial, de gênero, classe e geração. O resultado dessa equação hoje é problema,
no trabalho, na educação, na segurança pública, na saúde etc. Este tratamento,
que exige a necessidade prévia de ultrapassar os bloqueios e barreiras
existentes é caro por de mais para a Juventude Negra. As tradições não
superadas impossibilitam a compreensão das subjetividades de determinados
grupos étnicos, que associado ao racismo e suas peculiaridades tarda o início
de buscas e tentativas, ademais promovem os silêncios que matam a Juventude
Negra. Os ministérios, secretarias, departamentos, projetos, empresas etc,
precisam experimentar trabalhar com jovens negros em condições adversas, na
gestão, na coordenação, no apoio, mas também na construção de novas tecnologias
que ajude o desenvolvimento deste país. A luta anti-racista - ou pela promoção
da igualdade racial -, é secular. O relógio da Juventude Negra está ligado e o
tempo não está ao nosso favor. Jovens negros estão sendo sumariamente
mortos, e de quem é a responsabilidade?
A cultura de violência - física, cultural,
simbólica – mata jovens negros é responsável;
O Estado por meio do silêncio e da polícia mata
jovens negros é responsável;
Os ideais capitalistas e a pressão pelo consumo
mata jovens negros é responsável;
O neo-liberalismo e seus princípios econômicos,
políticos e social mata jovens negros é responsável; Jovens brancos e negros que forjados pelo machismo
e outras tendências matam uns aos outros, é responsável.
Identificar os responsáveis não é uma tarefa
difícil. Encontrar parceiros para políticas públicas inteligentes a fim de conter
a problemática e buscar soluções para no processo quebrar os paradigmas é sim
um bom desafio.
Paulo Ramos: Acredito ser este um bom exemplo de como a participação social e a
abertura do processo de elaboração política para diversos setores da sociedade
apontam para a criação de políticas que atendam ao reconhecimento e promoção de
novos direitos, com o surgimento de novos arranjos institucionais. Ainda que os
problemas sejam tão antigos.
O Relatório Final do ENJUNE - proposta 01 da I
CNPPJ - desafia a sociedade brasileira a levar a sério a situação da Juventude
Negra, este precisa ser lido e compreendido. Investimentos precisam focar nas
mais diversas áreas da formação e construção deste sujeito político. Importante
ao pensar no enfrentamento à violência contra jovens negros, pensar na formação
(Juventude Negra e o programa Brasil sem Fronteiras, PROJOVEM, PROUNI), em
novas tecnologias (Juventude Negra e pesquisas/seminários/congressos, PRONATEC,
LATTES, CNPQ), e Juventude Negra e políticas públicas de juventude e de
promoção da igualdade racial (Juventude Negra nos órgãos institucionais nas
três esferas de poder e conselhos).
Criar uma estratégia de ação que contenha a
violência contra a Juventude Negra, exige a construção de uma cultura favorável
a este segmento, em especial que considere suas potencialidades respeitem as
particularidades que somam ao desenvolvimento deste país.
Pensemos outros caminhos para além de palestras de
direitos humanos na formação de policial ou curso de reciclagem ou suspensão de
policial assassino. Desafiemos pensar em desmilitarização da polícia, em
punição exemplar para policial que comete assassinato, em num plano de
monitoramento ostensivo do índice
de letalidade (situação possível em várias partes do mundo);
Desafiemos buscar a descriminalização da população
negra, pobre, jovem e periférica, na desconstrução do perfil de suspeito. Desafiemos ações para além de oficina de hip-hop,
capoeira e dança afro. Desafiemos garantir a saúde para a juventude Negra,
resguardar os direitos sexuais e reprodutivos e gravidez segura para jovens
homens e mulheres. Desafiemos o tráfico de pessoas e a violência doméstica, o
racismo institucional, o machismo, sexismo a homofobia e o patriarcalismo desta
sociedade.
Creio que as organizações de juventude negra são
espaços estratégicos para investimentos e fortalecimento institucional, que o
advocacy para jovens negros fortalece o accountability
e a democracia participativa projetando espaços de empoderamento capaz de induz
a construção de políticas inteligentes que possibilite a garanta direito aos
direitos.
Referência
Bibliográfica:
WAISELFISZ, Julio Jacobo. O “Mapa da Violência 2011 – Anatomia dos
Homicídios no Brasil, no período de 2002 a 2010”. Instituto Sangari. São Paulo. 2011.
WAISELFISZ, Julio Jacobo. O “Mapa da Violência 2012 – Crianças e
adolescnetes do Brasil, no período de 2002 a 2011”. Instituto Sangari. São Paulo. 2012.
ZIMBWE, Thaís e THOMAS,
C. (Orgs). ENJUNE – Encontro Nacional da Juventude Negra: Novas perspectivas
na militância étnico-racial: Bahia: Relatório Final/Coordenação Nacional do
ENJUNE, 2007.