sexta-feira, 21 de junho de 2013

Perdido no Caminho Por Onde Ando



É inverno…

Pelos códigos que criamos, se inicia uma nova fase climática no Brasil, momento interessante para pensar e caminhar...

Desse canto do mundo, sinto algo que começar girar em sentido contrário, confrontando o calor que toma as ruas e enchem pessoas como eu de esperança, medo e indignação...

Novamente, processos meus me colocam de frete a uma folha sem pauta, desafiando-me andar, e pelo caminho esvaziar de algo que o corpo por si só, não consegue dar conta em performances solitárias ou coletivas, como na passeata dos 300 mil, ontem na Avenida Presidente Vargas no centro do Rio de Janeiro...   
Eis um tempo de esperança...

Na pele, sinto queimando a necessidade de relativizar posicionamentos adquiridos, e olhares fotografados de algum canto do mundo que não são meus, mas que insistentemente inscrevem em mim, percepções que a naturalidade de minha herança histórica, condiciona e aceita. Essa mesma, que me constituiu homem, hétero e negro, e que me determina pelos diversos caminhos por onde ando. Algo começa ficar indigesto no pouco conforto que me trazia... 
Eis o medo...

Não sei se pelo frio do inverno que chega, ou pelo calor gerado das inúmeras contradições que assinto de cá, essas trajetórias parecem não bater... Das truculências policiais que matam diariamente jovens negros, passando pelos bilhões gastos nos preparativos da copa, até os posicionamentos da Comissão de Direitos Humanos – que não me representa, simbolicamente e empiricamente, inúmeras mortes justificam os atos e ideais que estão sendo atropelados de um país que se diz democrático, laico e diverso... Essas trajetórias me queima por dentro...
Eis a indignação...

Estes sentimentos: esperança, medo e indignação exigem o encontro de outros caminhos...

Quanto mudamos, em alguns dias ou meses... Dependendo da capacidade de entrega e mobilização, toda uma forma de ver e viver a vida, toda uma geração... Entre desejos, amores, sonhos e expectativas a um universo a ser percorrido de mudanças que são extremamente dolorosas e que às vezes, mata.

Com a luta, a passagem abaixa, o posicionamento político muda, e a vida continua, dando-nos a sensação de leveza para o caminho que se aproxima do final... Outros processos surgem, e batem a porta aterrorizando a passividade que sempre nos será uma companheira... Nossa, quão custoso é mudar!

Nesse caminho, sinto-me outro, perdido... Projetado a ser outro produto dessa equação perversa. Não objetivo algo inalcançável, não quero isso, talvez algo diferente, se possível melhor, mais atencioso e aberto, mas confesso, não sei bem no que estou me tornando, ou em que toda essa minha geração está condenada, pelo acesso a essas nossas experiências...

Mudanças lineares são e serão sempre imprescindíveis para uma mente racional e progressista como a que lanço mão hoje... Elas definem a evolução e por sua vez, também algemam as percepções que temos do mundo, e dos seus acontecimentos, em percepções coletivas e universais que trazem impotência a vida. Isso também herdamos, nessa nossa maneira fútil de sempre capitalizar com os acontecimentos, esteja no âmbito das macro ou das micro relações... 
Não consigo encontrar mais sentido nisso, embora, esteja mergulhado nessa fórmula perversa...

Com a noite que cai, e os processos contínuos, caminho no frio do inverno que chega, e que favorece o clima que esquenta as ruas e a minha mente prolixa, convidando para novos trajetos... De cá, desse canto meu, aproveito para destruir o pouco que de mim ainda resta, e me aventuro na busca de ser um produto desse tempo paradoxal que se movimenta na mesma medida que se mantém estático, entre as mudanças e a barbaridade da permanência...

Um comentário:

  1. Nego

    Refletir sobre os caminhos que se trilha na complexa jornada da vida já é se encontrar... Nos perdemos no memso instante me que nos encontramos pelos espaços que vamos pouco a pouco "pulando a cerca". Encontrar-se requer perder-se pelas estradas trilhadas, ao passo que perder-se pressupõe saber se encontrar ou saber de encontros que são experienciados nas desventuras vividas.

    Para a sensiblidade das linhas que se descrevem no teu texto o encontro consigo e as reflexões de si são visíveis aos que te conhecem e te observam de forma mais próxima...

    Já tens elementos para tantos caminhos, para não mais esconder-se nos desencontros da vida e para encontrar-se encontrado nessa vida que "escolheu" para si...

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