sexta-feira, 20 de abril de 2012

SerTão

Para onde ir, quando o lugar é incapaz de sustentar nossos pensamentos?

Novamente a sensação, de que vencido as ondas que quebram na costa do continente, adentro ao mar, e vejo a terra se distanciar lentamente, e nessa dialética, também posturas e pensamentos, desejos e modelos de relações que na prática não me cabem mais. Crenças e paradigmas vão se diluindo, na medida em que o meu Eu, se envolve de determinados graus de exigências, e o meu âmago, "buscando ser fiel",  tem cada vez mais dificuldades de agradar-me... Será racionalidade ao extremo? Será nível/outro de exigências que o procedimento de minhas pretensões seletivas, e formação, cada vez mais despertam ao meu Eu merecer?

O Mar...
Entre debates, discursos e conversas, às vezes esquentadas, às vezes tencionadas, por vezes mansas aos pé do ouvido no telefone, por vezes próximas, mas carregadas de maturidade numa mesa de bar, ou no skype, descubro que o "lugar de conforto", que assumimos na medida que também "crescemos", nem sempre o é de fato igual, para todas as áreas da vida... Tenho ainda acessado cada vez mais a compreensão de que na prática, as segmentações (trabalho, formação, vida profissional, espiritualidade etc..) que propomos para a vida, em parte significativa e importante, dificulta a compreensão simples da forma como esta se operacionaliza e se apresenta, frente nossos olhos. 

O Sertão... Uma forma de vê-lo.  Entre Minas e Goiás...
Não vejo soluções práticas e viáveis de regresso ao continente, em que pese à forma que Eu estava ao deixá-lo, mas insisto que de minhas origens não posso largar mão... O Sertão, imperativo e hegemônico em mim, não permite que eu me perca em alto mar, e me faz complexo ao repartir minha visão, que carregada de estigmas e modos, expressa um ponto de vista que sei querer manter. Forte e inabalável aqui dentro, ser sertanejo, catrumano, atropela o novo universo que se aponta, e com ele os desejos, sabores e referenciais significativos de uma outra lógica de vida que insiste me bater a porta. 



Em tese, entendo que cabem às escolhas, o rumo da emancipação ideológica, e a formação que nos propomos, aqui ou em outro lugar, sempre exigirá momentos de perdas e encontros... Na prática, entendo que cabe segurar, nas origens minhas que me faz único, e com elas minhas vivencias e posturas, diferencial importante para minha trajetória intelectual. Já não sou mais o mesmo, mas não sou outro...
Eu, diferente, mas ainda Eu...


"Se todas as vitórias ocultam uma ambição" como ensina Beauvoir, aqui revelo a minha. Não é puro desejo e ambição ter livre os meus pensamentos, sim necessidade, pois estes se corporifica na prática diária do exercício de meu Eu. E a liberdade, antes é uma prisão, como revela Sartre, se esta fiel, estiver sustentada em bases, que não são genuinamente pessoais. Talvez o “lugar” onde as respostas se apresentem, e  as angustias são dissipadas, não esteja na materialização de um “lugar” propriamente dito, senão antes, em nós...

Guimarães Rosa em momentos de lucidez e ousadia, revela que chega um momento, que o “lugar” não se sustenta em um lugar, este se faz pessoa, e na pessoa, carrega sua dinamicidade, sua forma e sua existência... É assim que neste momento eu me sinto... Perdido entre o Sertão no mar, onde cada vez mais cresce e se destaca em mim a estirpe afro-sertaneja, onde o distante se faz dentro...

Um comentário:

  1. Penso que quanto mais se julga ter convicções e posturas firmes mais o "firme" de viver em terra se configura.

    Ao mar penso que cabe o fluido, o instável, o balançar das ondas e seu barulho constante ora remete tensão e tormenta, ora transmite calma, sabedoria e tranquilidade.

    A terra reflete bem essa fixidez do lugar, essa postura concreta, as "certezas", o amaduremcimento que vai se desenhando com o tempo.

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