Para onde ir, quando o lugar é incapaz de sustentar nossos pensamentos?
Novamente a sensação, de que vencido as ondas que quebram na costa do continente,
adentro ao mar, e vejo a terra se distanciar lentamente, e nessa dialética,
também posturas e pensamentos, desejos e modelos de relações que na prática não
me cabem mais. Crenças e paradigmas vão se diluindo, na medida em que o meu Eu,
se envolve de determinados graus de exigências, e o meu âmago, "buscando ser
fiel", tem cada vez mais dificuldades de agradar-me... Será
racionalidade ao extremo? Será nível/outro de exigências que o procedimento de
minhas pretensões seletivas, e formação, cada vez mais despertam ao meu Eu
merecer?
O Mar... |
Entre debates, discursos e conversas, às vezes esquentadas, às vezes
tencionadas, por vezes mansas aos pé do ouvido no telefone, por vezes próximas,
mas carregadas de maturidade numa mesa de bar, ou no skype, descubro que o
"lugar de conforto", que assumimos na medida que também
"crescemos", nem sempre o é de fato igual, para todas as áreas da
vida... Tenho ainda acessado cada vez mais a compreensão de que na prática, as segmentações
(trabalho, formação, vida profissional, espiritualidade etc..) que propomos
para a vida, em parte significativa e importante, dificulta a compreensão
simples da forma como esta se operacionaliza e se apresenta, frente nossos
olhos.
O Sertão... Uma forma de vê-lo. Entre Minas e Goiás... |
Não vejo soluções práticas e viáveis de regresso ao continente, em que pese à
forma que Eu estava ao deixá-lo, mas insisto que de minhas origens não posso largar
mão... O Sertão, imperativo e hegemônico em mim, não permite que eu me perca em
alto mar, e me faz complexo ao repartir minha visão, que carregada de estigmas e
modos, expressa um ponto de vista que sei querer manter. Forte e inabalável aqui dentro, ser sertanejo,
catrumano, atropela o novo universo que se aponta, e com ele os desejos,
sabores e referenciais significativos de uma outra lógica de vida que insiste me bater a porta.
Em tese, entendo que cabem às escolhas, o rumo da emancipação ideológica, e a formação que nos propomos, aqui ou em outro lugar, sempre exigirá momentos de perdas e
encontros... Na prática, entendo que cabe segurar, nas origens minhas que me faz único, e com
elas minhas vivencias e posturas, diferencial importante para minha trajetória intelectual. Já não sou mais o mesmo, mas não sou outro...
Eu, diferente, mas ainda Eu... |
"Se todas as vitórias ocultam uma ambição" como ensina Beauvoir,
aqui revelo a minha. Não é puro desejo e ambição ter livre os meus pensamentos, sim necessidade, pois estes se corporifica
na prática diária do exercício de meu Eu. E a liberdade, antes é uma prisão, como
revela Sartre, se esta fiel, estiver sustentada em bases, que não são genuinamente
pessoais. Talvez o “lugar” onde as respostas se apresentem, e as angustias são dissipadas, não esteja na
materialização de um “lugar” propriamente dito, senão antes, em nós...
Guimarães Rosa em momentos de lucidez e ousadia, revela que chega
um momento, que o “lugar” não se sustenta em um lugar, este se faz pessoa,
e na pessoa, carrega sua dinamicidade, sua forma e sua existência... É assim
que neste momento eu me sinto... Perdido entre o Sertão no mar, onde cada vez mais
cresce e se destaca em mim a estirpe afro-sertaneja, onde o distante se faz
dentro...
Penso que quanto mais se julga ter convicções e posturas firmes mais o "firme" de viver em terra se configura.
ResponderExcluirAo mar penso que cabe o fluido, o instável, o balançar das ondas e seu barulho constante ora remete tensão e tormenta, ora transmite calma, sabedoria e tranquilidade.
A terra reflete bem essa fixidez do lugar, essa postura concreta, as "certezas", o amaduremcimento que vai se desenhando com o tempo.