sábado, 29 de junho de 2013

OUTRAS FORMAS DE SER: Masculinidades em (des)construção



Algemas nos aprisionam o corpo, Ideologias, a mente. 

Passados 10 anos desde que deixei a casa de minha mãe e do meu pai, e notifiquei os meus interesses em tomar as rédeas de minha vida, e o desejo por caminhos que julgava e julgo serem os mais sensatos para mim, venho-me (des)construindo, dia pós dia, morrendo e gestando entre o hoje e o amanhã.  

O rotineiro silencio é uma ferramenta providencial para minha reconstrução diária. Mergulho profundamente em divagações e reflexões que possibilitam problematizar o falso-privilégio estrutural, que poucos como eu tem/terão acesso, e que me custa muito. Viver com tempo para pensar e refletir, é uma arma para a vida nos moldes em que ela naturalmente se estabelece. Tempo e reflexão, serão sempre a principal pauta na negociação com a liberdade. 

O dia nesses últimos 08 anos em que consegui garantir tempo e solidão ao meu corpo e mente, tem sido de muitos aprendizados, que me faz contabilizar a vida pelas mudanças que meu olhar adquiriu, ou superou, nesse doloroso percurso da vida real. É alto o preço pago em cada decisão tomada. O valor das derrotas e das vitórias que preenchem meu currículo, me são tão importantes quanto os objetivos que ainda pretendo alcançar, aliás, são mais caras...

Nos últimos anos, tenho buscado encontrar mais significados que os naturalizados, sobre a minha masculinidade racista, classista, sexista e homofóbica. Fui construído assim, e penso que todos somos... 
Juliano Gonçalves Pereira

Vivemos algemados por várias prisões, pois, vemos o mundo sobre a ótica hegemônica de um homem capitalista branco adulto, hétero, cristão, homofóbico, machista, sexista, e romper esse olhar não é fácil... pelo menos não tem sido para mim... A sedução de manter neste padrão é grande, e um referencial muito forte...

Passo a passo, dia pós dia estou buscando abstrair essas categorias em minha existência, pois percebo que elas me negam, me fagocitam e me violentam na mesma proporção que me acolhe, me privilegia e me seduz a existência... 

São diversas as cobranças simbólicas que esse existir exige. De tal maneira, aprisiona meu corpo a uma lógica existencial cuja solução eficaz é a morte. E antes que me mate como tem sido corriqueiro no Brasil, procuro eliminar-me por dentro. Superar essa existência que não solicitei e não quero para mim.

Próximo aos 30 anos, sou um sobrevivente nesse país que adora matar jovens negros, se destacando dos demais países do mundo em sua eficácia. A naturalidade dessa existência forjada, cobra-me, me extorqui um casamento, um emprego fixo, e mais do que tudo, ser bem sucedido financeiramente. 

A masculinidade herdada e inscrita se engarrega de dar forma a violenta exigência de filhos e bons comentários entre as mulheres, em ser um marido bondoso, atencioso, e com muitos créditos se reparto os trabalhos domésticos, reforçando o estereótipo padrão macho sensível negro-falo de ser... Isto me agride por dentro, cerceia minha naturalidade e desconsidera meus sonhos e pensamentos. Não posso isso, não quero, não permito...

Se por um lado há privilégios, por ser construído homem, hétero etc, por outro, me asfixiam por ser negro... Meu corpo nasceu endividado e aprisionado a correntes físicas e ideológicas. Sou invisibilizado e lutar contra isso é minha grande luta, cuja solução é "destruir-me do que sou, para jamais ser subordinado a interpelações absurdas" como corriqueiramente acontecem.

Não me comporto nesse modelo masculino, que produz vulnerabilidades absurdas, sufoca, escraviza e impede de gritar o mal que faz a mim e a tudo que me circunscreve. Não caibo mais nesse padrão, e preciso me libertar dessa minha angustiada existêncial antes que seja tarde. 


Deixo os pseudo-privilégios, que me banem do direito de ser o que sou, que me acusa, me julga e me mata nas ruas todos os dias, e me procuro desesperadamente em outras possibilidades de existência, em outras formas de ser humano, pois esta está doente...

Morro a cada dia, até que a estatística real não me contabilize. Nasço a cada manhã e começo meu último dia na busca desenfreada de um novo eu...

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Marcas



Olho para mim e vejo, os meus desejos insaciáveis me forjado, me (des)construído por dentro. 

Não sei bem onde levarão estes e os outros caminhos que projeto, sei que tenho produzido rotas para dentro e para o fundo de mim que parecem não ter fim...

A natureza das ações e dos fatos que estou mergulhado, só representa a nítida certeza do que não sou, ou que não quero ser. Nem sempre dizem algo ao meu respeito, nem sempre falam de mim...

Estou uma vela estendida em alto mar... Sinto o vento penetrar minha pele, sinto-me destruindo por dentro...

Estou largando-me de tudo que um dia me era parâmetro, me é algema...

Abandonado em mim, percebo as marcas que me pertencem, que me fazem... Preciso organizar meu caos, sem que a sedução de andar no limite me invada e me faça...

Olho para o alto, atenção na esquina, é hora de prosseguir, ir mais e além... Eis minha prisão pessoal da qual quero me libertar...

Entre contratos que se enceram, vozes descritas e tiros de redenção, busco por algo que me cure de mim, que me domine, e me ensine o rumo do próximo passo...

Picos de amores em intensidades desequilibradas temperam a minha luta interna.  Eu x Eu...

E Eu sempre perco...

O tempo que entra pela janela é relativo, e o corpo com suas marcas parecem desaparecer entre imagens e ideais...

Mais um dia.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Quando o Corpo Fala



Ele sempre se apresenta
Seja com desejos soltos
Ou com estados de permanência

Engraçado que com o tempo
E as vivências
Com o nosso corpo mudamos

E passamos a relativizar nossas liberdades
Encontrando sensatez em ações e atitudes
Que há pouco tempo pareciam vazias 

Quando Ele fala...
Nós;
O meu corpo e eu, somos indissociáveis
Embora às vezes eu acredite estar sozinho

Dois em um
Garimpamos o mundo
Mas aprisionamos o corpo a mente
 
As pernas sentem o peso dessa decisão
E os desdobramentos são catastróficos
Chegam nús atropelando por dentro

A palavra de ordem é diminuir os passos...
É hora de se desafiar outros rumos
Encontrar amores em atitudes mais sólidas

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Perdido no Caminho Por Onde Ando



É inverno…

Pelos códigos que criamos, se inicia uma nova fase climática no Brasil, momento interessante para pensar e caminhar...

Desse canto do mundo, sinto algo que começar girar em sentido contrário, confrontando o calor que toma as ruas e enchem pessoas como eu de esperança, medo e indignação...

Novamente, processos meus me colocam de frete a uma folha sem pauta, desafiando-me andar, e pelo caminho esvaziar de algo que o corpo por si só, não consegue dar conta em performances solitárias ou coletivas, como na passeata dos 300 mil, ontem na Avenida Presidente Vargas no centro do Rio de Janeiro...   
Eis um tempo de esperança...

Na pele, sinto queimando a necessidade de relativizar posicionamentos adquiridos, e olhares fotografados de algum canto do mundo que não são meus, mas que insistentemente inscrevem em mim, percepções que a naturalidade de minha herança histórica, condiciona e aceita. Essa mesma, que me constituiu homem, hétero e negro, e que me determina pelos diversos caminhos por onde ando. Algo começa ficar indigesto no pouco conforto que me trazia... 
Eis o medo...

Não sei se pelo frio do inverno que chega, ou pelo calor gerado das inúmeras contradições que assinto de cá, essas trajetórias parecem não bater... Das truculências policiais que matam diariamente jovens negros, passando pelos bilhões gastos nos preparativos da copa, até os posicionamentos da Comissão de Direitos Humanos – que não me representa, simbolicamente e empiricamente, inúmeras mortes justificam os atos e ideais que estão sendo atropelados de um país que se diz democrático, laico e diverso... Essas trajetórias me queima por dentro...
Eis a indignação...

Estes sentimentos: esperança, medo e indignação exigem o encontro de outros caminhos...

Quanto mudamos, em alguns dias ou meses... Dependendo da capacidade de entrega e mobilização, toda uma forma de ver e viver a vida, toda uma geração... Entre desejos, amores, sonhos e expectativas a um universo a ser percorrido de mudanças que são extremamente dolorosas e que às vezes, mata.

Com a luta, a passagem abaixa, o posicionamento político muda, e a vida continua, dando-nos a sensação de leveza para o caminho que se aproxima do final... Outros processos surgem, e batem a porta aterrorizando a passividade que sempre nos será uma companheira... Nossa, quão custoso é mudar!

Nesse caminho, sinto-me outro, perdido... Projetado a ser outro produto dessa equação perversa. Não objetivo algo inalcançável, não quero isso, talvez algo diferente, se possível melhor, mais atencioso e aberto, mas confesso, não sei bem no que estou me tornando, ou em que toda essa minha geração está condenada, pelo acesso a essas nossas experiências...

Mudanças lineares são e serão sempre imprescindíveis para uma mente racional e progressista como a que lanço mão hoje... Elas definem a evolução e por sua vez, também algemam as percepções que temos do mundo, e dos seus acontecimentos, em percepções coletivas e universais que trazem impotência a vida. Isso também herdamos, nessa nossa maneira fútil de sempre capitalizar com os acontecimentos, esteja no âmbito das macro ou das micro relações... 
Não consigo encontrar mais sentido nisso, embora, esteja mergulhado nessa fórmula perversa...

Com a noite que cai, e os processos contínuos, caminho no frio do inverno que chega, e que favorece o clima que esquenta as ruas e a minha mente prolixa, convidando para novos trajetos... De cá, desse canto meu, aproveito para destruir o pouco que de mim ainda resta, e me aventuro na busca de ser um produto desse tempo paradoxal que se movimenta na mesma medida que se mantém estático, entre as mudanças e a barbaridade da permanência...